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O PROBLEMA COM A FORMA QUE AS PESSOAS EXPERIENCIAM OS JOGOS

 INTRODUÇÃO
    
    Jogos são um tipo de audio-visual que vem evoluindo e evoluindo desde 1971. Eles são algo que conseguiram ir além de uma coisa que serve só pra divertir e distrair uma criança por algumas horas e evoluíram pra algo capaz de provocar diferentes emoções no ser humano e ensinar diferentes lições. Quando uma empresa anunciava um novo jogo, pessoas do mundo inteiro demonstravam anseio e quando ele lançava era bem comum que elas ficassem HORAS na frente da televisão jogando, escrevendo guias e reviews sobre sua experiência. Sim, exatamente isso que jogos são. Uma experiência... Ou ao menos é o que eles costumavam ser. Conforme o tempo foi pasando, mais difícil foi sendo de apreciar novos jogos, e isso é um problema que vem não só das empresas e do capitalismo, mas também dos próprios jogadores. E aqui vou explicar isso melhor.

A FORMA EM QUE O JOGO É EXPERIENCIADO

Tudo começa na forma em que o jogador se diverte, ou ao menos tenta se divertir. Claro, não tô aqui pra julgar a forma como a pessoa melhor se diverte jogando, mas sim dar uma opinião quanto a isso. Hoje em dia, há jogos gigantes com um mundo tão grande quanto o nosso para ser explorado. Cheio de lugares secretos, bosses opcionais, itens exclusivos e coisas do tipo. Uma das melhores formas de se imergir num universo é se imaginando como um personagem dele, ou seja, como o protagonista do jogo que você está jogando. Vou dar como exemplo Elden Ring, que é um jogo imenso na questão de conteúdo e que alguém facilmente levaria mais de 50 horas para aproveitar tudo o que o jogo tem a oferecer. Agora vamos supor: você tá muito ansioso pra jogar Elden Ring, e finalmente adquiriou o jogo. Você vai lá, abre o jogo no seu console e se senta para jogar. Até que depois de algumas horas jogando… bate aquele sentimento de que você deixou algo pra trás. Ou então você chega numa parte difícil e não consegue passar por sí mesmo. É extremamente comum que a pessoa rapidamente recorra ao YouTube pra pesquisar como passar de tal parte ou como ficar forte o suficiente pra continuar o jogo sem problemas. E aí já começa o problema. 

Você se impede de ficar bom por sí mesmo e vai imediatamente pedir ajuda pra alguém alheio na internet, já se impedindo de ter uma experiência divertida descobrindo como ficar bom e como passar de tal parte. É muito gratificante quando você finalmente termina aquele guia de 5000 linhas no GameFaqs pra se tornar ultra apelão num jogo, mas agora, você já se perguntou o quanto a pessoa que escreveu o guia deve ter se divertido? Ela explorou e estudou o jogo SOZINHA, foi pra cada canto e testou cada método e possibilidade pra achar a forma mais funcional e rápida de se tornar forte, e compartilhou dessa experiência com um guia. Você já parou pra pensar no quanto sua experiência pode ter sido limitada por simplesmente não querer explorar e estudar o jogo? Você simplesmente corre pra as respostas do seu problema, sem sequer saber como chegar nas respostas em sí. Essa experiência pode ter deixado de ser única pra ti, afinal tudo o que você fez foi seguir um guia. Mas não hesite em seguir um guia caso você esteja com muita dificuldade mesmo numa parte de um jogo, afinal jogar com estresse é só desgastante e não contribui em nada para você ter uma boa experiência.

O “AMBIENTE GAMER”

As pessoas com quem você compartilha suas experiências e conhecimento podem impactar bastante na forma como você se diverte jogando. Nos dias de hoje, em que quase tudo se resume a competitividade, existe uma grande possibilidade de você ser diminuído e ridicularizado se você “jogar pior” do que outra pessoa. Por exemplo, supondo que você mandou um clipe de você fazendo algo muito maneiro no Doom Eternal, mas daí outra pessoa vai lá e manda outro clipe dela fazendo tal coisa melhor do que você e te diminui chamando de noob ou coisa do tipo. O que ela fez além de dar um foda-se total pra a sua conquista que você se orgulha é te diminuir usando um videojogo, querendo demonstrar superioridade a você. Isso pode causar problemas que vão além de desentendimentos na comunidade, como também complexo de superioridade e inferioridade. Um termo bom pra exemplificar é o “skill issue”, que hoje em dia é extremamente usado. 

Você tá frustrado com um boss no Dark Souls e quer relatar isso em algum lugar. Daí você vai e explica sua experiência, e outra pessoa achando melhor que tu simplesmente diz que você tem skill issue e começa a te diminuir de outras formas. Isso pode ser simplesmente uma brincadeira entre amigos, mas também pode se tornar algo que influencia diretamente na sua experiência com o jogo. Dark Souls é um jogo incrível que te faz realmente estudar e aprender o jogo para se progredir (isso quando você não vai ver um guia pra saber como matar tal boss do jogo lol), e quando alguém diminui seu progresso e aprendizado não é nada além de frustrante e você pode até perder a vontade de jogar por causa disso. Isso também conta para jogos online, como Valorant, que se você for ruim você pode muito bem ser xingado pelo seu time, te desmotivando de jogar pela comunidade tóxica. Algo que eu recomendo para evitar o seu problema é simplesmente guardar a sua experiência para sí, afinal só você sabe o quão valiosa e divertida ela está sendo, e você com certeza não quer estragar isso com ignorância vindo de outras pessoas, né?

O PROBLEMA COM OS JOGOS ATUAIS

Você vê muitos conceitos de jogos sendo re-usados em outros jogos. Por exemplo, a esquiva de Kingdom Hearts para desviar de ataques inimigos, que acabou também sendo utilizada nos jogos da From Software. Isso é algo incrível de se acontecer, pois as desenvolvedoras estão utilizando de mecânicas bem sucedidas de outros jogos em seus jogos, o que melhora a gameplay do mesmo. Mas agora, e quando desenvolvedoras acaba fazendo isso de forma tão exagerada que acabam criando um novo gênero? É o que tem acontecido com os jogos “souls-like”. A fórmula da FromSoft é maravilhosa, os jogos dela são incrivelmente dinâmicos e divertidos. Tanto que muitos, MUITOS jogos se inspiram nele hoje em dia, sendo jogos souls-like. 

Isso se saturou de uma forma IMENSA. Não é incomum ver um novo RPG sendo anunciado repetindo a mesma fórmula da FromSoft. Isso não é algo realmente ruim, mas acaba se tornando maçante. O que aconteceu com a originalidade das desenvolvedoras? Nem sempre as pessoas querem jogar um souls-like. Eu achei o conceito do Lies of P (jogo inspirado em Bloodborne) bem legal, e que se bem executado pudesse se tornar um jogo muito divertido. Mas quando eu joguei a demo dele… Eu simplesmente senti como se eu estivesse jogando Bloodborne de novo. Não posso dizer que me diverti muito. Dá pra pesquisar uma lista bem grande de jogos que repetem essa fórmula “souls-like”, e dá pra ver claramente o quanto isso se saturou. Uma hora ou outra as pessoas vão se cansar e perceber o quanto está sendo maçante. Muito jogo peca na sua originalidade e inovação, e as coisas não eram bem assim antes. Isso é algo que me fez perder quase totalmente o interesse em jogos novos que não são sequels de franquias que eu já adoro.

Quando eu joguei Kingdom Hearts 1 e 2, eu senti minha vontade de explorar o mundo dos jogos crescer cada vez mais de acordo com como eu progredia nos jogos. Foi um sentimento de originalidade, imersão, e sem falar na diversão inexplicável. Foi uma experiência tão incrível que agora a franquia se tornou uma das minhas favoritas de todos os tempos. Isso é algo que eu não consigo sentir mais com jogos que lançam atualmente. Por algum motivo, eu sempre sinto que tô jogando "mais do mesmo". Isso desde 2020. O fato de que a Square Enix teve que dar o máximo de sí pra desenvolver o jogo pro PS2, consciente do fato de que eles não podiam errar fez com que a experiência se tornasse verdadeiramente mágica. Hoje em dia é comum que as desenvolvedoras cometam erros bobos nos seus jogos e lancem patch poucos dias depois de seu lançamento para corrigir. Alguns sendo até pra corrigir finais que acabaram sendo ruins (e.G: Sonic Frontiers). Isso me faz pensar no quanto as empresas degrediram na forma em que elas desenvolvem seus jogos, e acredito que as coisas não vão melhorar pra a indústria tão cedo.

A OPINIÃO DA MAIORIA

Quando você simplesmente baseia sua opinião na de outras pessoas, a sua experiência deixa de ser sua. Dando como exemplo Devil May Cry 2, que é um jogo que eu curti bastante (mais que o 1). A minha experiência com o jogo nunca deixou de ser divertida e animada. Mesmo 4 anos após eu ter zerado ele eu ainda sinto um carinho especial pelo mesmo. Isso acontece porque apesar de todo mundo dizer que o jogo é horrível e não recomendar, eu nunca deixei de experienciar por mim mesmo e tirar as minhas próprias conclusões. Isso deveria ser conhecimento básico, mas pra muita gente não é. Por incrível que pareça, eu vejo até mesmo youtubers querendo depreciar a experiência de outras pessoas em tal obra simplesmente porque a maioria das pessoas acham a obra ruim. Lembre-se que a objetividade quando se vem de experiências é uma ilusão. Só você pode dizer se o jogo é bom ou não, e só você pode dizer se ele vale a pena ou não. Seja o mestre de sí mesmo.